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sábado, março 20, 2010

Cornudos Históricos: Rousseau cornudo infeliz ou merecedor?



A traição é uma constante histórica que sempre interessa, pois já foi responsável por grandes reviravoltas, como por exemplo a mais celebre das traições: a de Judas Iscariotes. No entato, não é sobre este tipo de traição que queremos falar, na série que hoje se inaugura com Rousseau, o nosso interesse é das traições conjugais, dos "lençóis da História" (emprestando as palavras de uma professora muito competente e que considera tal assunto irrelevante), utilidades a parte, tais informações (verdadeiras ou não), na nossa concepção, servem apenas para quebrar um pouco a sisudez da historiografia e aproximar grandes ícones de nós simples mortais.
O nosso grande filósofo Jean Jacques Rousseau, não era muito habilidoso com as mulheres, apesar de admirar e amar estas, em suas Confissões, disse: "Na realidade, fiz muito pouco o amor, mas não deixei de usufruir bastante, a meu modo, isto é, através da imaginação." Segundo Kock (1990), o filósofo com frequência substituia os prazeres da realidade pelos sonhos da imaginação e desta forma teve alguns amores. O seu desastre como amante pode ser exemplificado, por uma experiência, com uma prostituta, que o dispensou dizendo: "Abandone as mulheres, estude Matemática" (Confissões - Rousseau).
Kock (1990) nos relata que após alguns amores, à sua maneira, ele se casou, quando menos se esperava, em desespero de causa, com a última: Thérèse de la Vasseur - uma total nulidade de espírito e coração. O próprio Rousseau relata que tentou ensinar-lhe alguma coisa, mas desisitiu, segundo ele, ela nunca aprendeu ler correntemente, ver as horas (apesar de tentar ensiná-la por um mês), era incapaz de acompanhar a sequência dos doze meses do ano, não reconhecia nenhum algarismo, não sabia contar dinheiro, tão pouco os preços das coisas e quando falava, frequentemente, a palavra que saia era o aposto do que queria dizer.
Ainda assim, ele assumiu vida conjugal com ela, prometendo a proteger e jamais casar-se. Ele confessa que sustentava toda a família dela, sofreu muito com uma sogra interesseira, aproveitadora e mau caráter. No entanto, Thérèse nada exigia para seu luxo ou vaidade. Conviveram assim por longos vinte e cinco, resistindo a seus amigos que faziam de tudo para afastá-lo dela, que o traía sem o menor pudor.
Foi no decorrer destes anos que tiveram cinco filhos, fruto de suas cópulas e não do amor. A contradição deste grande e resignado homem, surge neste ponto, Rousseau mesmo se declarando bom, amante da virtude e natureza, escrevendo um livro (Emilio) que ensinava as mães educar seus filhos, ordenou friamente a doação de todos os seus filhos à caridade alheia, em ofarnato.
Após estes vinte e cinco anos de convivência, ele se considerou obrigado a oficializar a relação e quebrando seu juramento, em seus anos de velhice e não a amando, casou-se com Thérèse. Nos dois últimos anos de sua vida, na pobreza, aceitou (depois de muita insistência do amigo) asilo no castelo do Marquês Girardi, em Ermenoville. Lugar que muito lhe agradou ao contrário de sua esposa que se entediava com a vida no campo e tinha saudades de Paris.
Thérèse nunca foi bonita e já encontrava-se envelhecida, no entanto, o palafreneiro do castelo resolveu lhe fazer a corte, interessado nos favores que sua bolsa podia lhe prestar; e ela aceitou. Em uma tarde Rousseau avistou de longe sua mulher abraçada ao amante, cobriu-se de tristeza, dirigindo-se para seu quarto onde se suicidou.
O marquês, seu amigo, quis esconder a vergonha daquela morte, espalhando o boato de que havia morrido de um ataque de apoplexia. Já sua esposa, desobedecendo o marquês, saiu a disseminar a verdade por toda aldeia. Depois de ser expulsa de Ermenoville, ter dissipado a herança literária do marido e os dontativos proporcionados pela Assembléia Constituinte, por ter sido esposa de uma grande homem, morreu aos oitenta anos na miséria.
Sem qualquer comentário de tão conturbada história, resta-nos uma frase conhecida: De perto ningué é normal, nem mesmo Rousseau.

Fonte: KOCK, H. Os cornudos. 2 ed. São Paulo: 1990.

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