Contigo Histórica !
Este espaço tem dois obejtivos: primeiro falar um pouco de temas amenos da História, fofocas, pecuinhas, sem a menor preocupação com rigor científico. E também para publicar artigos, resenhas, ensaios, comprometidos com a historiografia.
domingo, janeiro 15, 2012
domingo, outubro 09, 2011
D. Pedro I - O Demonão
D. Pedro era o tipo de homem que nenhuma mulher gostaria de ter como esposo, nos dias atuais com certeza seria considerado um obsessivo sexual, passível de tratamento psicológico! Enumerar suas amantes é uma missão quase impossível. O Demonão não tinha nenhum preconceito de cor ou classe social, só precisava vestir saias e não ser clérico, rs..., coitadas da Leopoldina e Marquesa dos Santos, pois nem mesmo a amante oficial freiava seus impulsos, daí as várias doenças sexualmente transmissíveis do nosso primeiro imperador.
Em matéria da Revista da Biblioteca Nacional, foi forjado o mapa abaixo, com algumas das amantes destes praticante fervoroso da prática sexual. Divirta-se!!
Em matéria da Revista da Biblioteca Nacional, foi forjado o mapa abaixo, com algumas das amantes destes praticante fervoroso da prática sexual. Divirta-se!!
quinta-feira, junho 10, 2010
Se a história da Chapeuzinho Vermelho fosse verdade, como ela seria contada na imprensa do Brasil?
Depois de um bom afastamento, dado a epidemia de fertilidade e casamentos da minha família, cá estou com muita saudade das fofoquinhas históricas...rs... Hoje vou postar uma colaboração do meu amigo Gilberto (Homem Bomba da história!), que segundo ele é de autoria de um professor. Como Antropologia Cultural é umas das nossas fontes históricas (q gosto muitooo), resolvi trazer o texto que é bem divertido. Tomara que vcs gostem.
Jornal Nacional
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...'
(Fátima Bernardes): '...mas a atuação de um lenhador evitou a tragédia.'
Programa da Hebe
'...que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'
Cidade Alerta
(Datena): '...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia pra casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não!
Superpop
(Luciana Gimenez): 'Geeente! Eu tô aqui com a ex-mulher do lenhador e ela diz que ele é alcoólatra, agressivo e que não paga pensão aos filhos há mais de um ano. Abafa o caso!'
Globo Repórter
(Chamada do programa): 'Tara? Fetiche? Violência? O que leva alguém a comer, na mesma noite, uma idosa e uma adolescente? O Globo Repórter conversou com psicólogos,
antropólogos e com amigos e parentes do Lobo, em busca da resposta. E uma revelação: casos semelhantes acontecem dentro dos próprios lares das vítimas, que silenciam por
medo. Hoje, no Globo Repórter.'
Discovery Channel
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.
Revista Veja
Lula sabia das intenções do Lobo.
Revista Cláudia
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
Revista Nova
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama!
Revista Isto É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
Revista Playboy
(Ensaio fotográfico do mês seguinte): ' Veja o que só o lobo viu'.
Revista Vip
As 100 mais sexies - desvendamos a adolescente mais gostosa do Brasil!
Revista G Magazine
(Ensaio com o lenhador) 'O lenhador mostra o machado'.
Revista Caras
(Ensaio fotográfico com a Chapeuzinho na semana seguinte): Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor pra muitas coisas na vida. Hoje, sou outra pessoa.'
Revista Superinteressante
Lobo Mau: mito ou verdade?
Revista Tititi
Lenhador e Chapeuzinho flagrados em clima romântico em jantar no Rio.
Folha de São Paulo
Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'. Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O Estado de São Paulo
Lobo que devorou menina seria filiado ao PT.
O Globo
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT, que matou um lobo para salvar menor de idade carente.
O Dia
Lenhador desempregado tem dia de herói
Extra
Promoção do mês: junte 20 selos mais 19,90 e troque por uma capa vermelha igual a da Chapeuzinho!
Meia hora
Lenhador passou o rodo e mandou lobo pedófilo pro saco!
O Povo
Sangue e tragédia na casa da vovó.
Correio da Bahia e TV Bahia
Menina usando um chapeuzinho vermelho é atacada por um lobo e não consegue atendimento em nenhum hospital do Estado. Governador Wagner não se manifesta.
Balanço Geral:
Cartão vermelho para isto! Ora, desde o tempo da suburbana que todos conhecem a história, Lobo mau traçou Chapeuzinho lá no tempo da vovozinha, agora a culpa é do Wagner?
Bocão:
Passa o rodo! Menor de 13 anos, inocente, é estuprada devorada viva por desconhecido drogado, quando ia para casa da vovózinha. O safado degolou a velha!
O major Cláudio flagrou o meliante e o levou às pressas ao HGE para extração da adolescentes! Temos imagens exclusivas da cirurgia. Kd vc Liana Cardoso! é com vc, na tela! Mas antes nós temos R$ 5.000,00 na roleta, ligue agora 9965-3011
Um retrato da nossa grande mídia nacional, só resta nos preguntar: E agora? E agora José? E agora Drummond? A cada dia se faz mais necessário o nosso olhar crítico para tudo o que vemos e/ou ouvimos.
Jornal Nacional
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...'
(Fátima Bernardes): '...mas a atuação de um lenhador evitou a tragédia.'
Programa da Hebe
'...que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'
Cidade Alerta
(Datena): '...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia pra casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não!
Superpop
(Luciana Gimenez): 'Geeente! Eu tô aqui com a ex-mulher do lenhador e ela diz que ele é alcoólatra, agressivo e que não paga pensão aos filhos há mais de um ano. Abafa o caso!'
Globo Repórter
(Chamada do programa): 'Tara? Fetiche? Violência? O que leva alguém a comer, na mesma noite, uma idosa e uma adolescente? O Globo Repórter conversou com psicólogos,
antropólogos e com amigos e parentes do Lobo, em busca da resposta. E uma revelação: casos semelhantes acontecem dentro dos próprios lares das vítimas, que silenciam por
medo. Hoje, no Globo Repórter.'
Discovery Channel
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.
Revista Veja
Lula sabia das intenções do Lobo.
Revista Cláudia
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
Revista Nova
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama!
Revista Isto É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
Revista Playboy
(Ensaio fotográfico do mês seguinte): ' Veja o que só o lobo viu'.
Revista Vip
As 100 mais sexies - desvendamos a adolescente mais gostosa do Brasil!
Revista G Magazine
(Ensaio com o lenhador) 'O lenhador mostra o machado'.
Revista Caras
(Ensaio fotográfico com a Chapeuzinho na semana seguinte): Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor pra muitas coisas na vida. Hoje, sou outra pessoa.'
Revista Superinteressante
Lobo Mau: mito ou verdade?
Revista Tititi
Lenhador e Chapeuzinho flagrados em clima romântico em jantar no Rio.
Folha de São Paulo
Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'. Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O Estado de São Paulo
Lobo que devorou menina seria filiado ao PT.
O Globo
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT, que matou um lobo para salvar menor de idade carente.
O Dia
Lenhador desempregado tem dia de herói
Extra
Promoção do mês: junte 20 selos mais 19,90 e troque por uma capa vermelha igual a da Chapeuzinho!
Meia hora
Lenhador passou o rodo e mandou lobo pedófilo pro saco!
O Povo
Sangue e tragédia na casa da vovó.
Correio da Bahia e TV Bahia
Menina usando um chapeuzinho vermelho é atacada por um lobo e não consegue atendimento em nenhum hospital do Estado. Governador Wagner não se manifesta.
Balanço Geral:
Cartão vermelho para isto! Ora, desde o tempo da suburbana que todos conhecem a história, Lobo mau traçou Chapeuzinho lá no tempo da vovozinha, agora a culpa é do Wagner?
Bocão:
Passa o rodo! Menor de 13 anos, inocente, é estuprada devorada viva por desconhecido drogado, quando ia para casa da vovózinha. O safado degolou a velha!
O major Cláudio flagrou o meliante e o levou às pressas ao HGE para extração da adolescentes! Temos imagens exclusivas da cirurgia. Kd vc Liana Cardoso! é com vc, na tela! Mas antes nós temos R$ 5.000,00 na roleta, ligue agora 9965-3011
Um retrato da nossa grande mídia nacional, só resta nos preguntar: E agora? E agora José? E agora Drummond? A cada dia se faz mais necessário o nosso olhar crítico para tudo o que vemos e/ou ouvimos.
sábado, março 27, 2010
RESUMO – AMOR, SEXO & CASAMENTO NA GRÉCIA ANTIGA (Nikolaos Vrissimtzis)

Homossexualidade, casamento, família, condição feminina, prostituição, sexo, são os temas que fazem parte desta obra bastante interessante sobre a fascinante Grécia Antiga. Vale a pena ler o livro. E o presente resumo também.
Segundo o autor, o período abordado no livro refere-se ao histórico, que se inicia no século VIII a.C, época em que os textos escritos chegaram até nós. Englobando as sociedades: dos tempos homéricos, arcaico, clássico e helenístico até a conquista da Grécia pelos romanos.
Tem como objetivo central desmistificar idéias pré-concebidas sobre o mundo grego e sua posição diante da sexualidade. Pontuando também as relações familiares desta civilização, através principalmente de sua arte.
Os gregos, nos diz o autor, enxergam o sexo e o amor sem culpas ou tabus, com plena aceitação da vida e da natureza. O corpo é o templo do espírito e da alma, visto como parte da totalidade da natureza. E, por conseguinte, a sexualidade era mais abrangente que hoje, baseada na religiosidade:
“..., uma vez que através do emprego de atos e símbolos mágico-sexuais, assegurava-se e promovia-se a fertilidade da terra e da mulher.” (p. 18).Daí a deificação do deus Eros que ele afirma ser uma divindade primordial, de ascendência desconhecida, tão antiga quanto o Caos ou a Terra.
No período Homérico, bem como após este, o casamento e a família serão o centro da sociedade para criação de filhos legítimos como herdeiros e manutenção do poder. Já a virgindade, enquanto detalhe anatômico, não era obrigatória às jovens, pois havia relações sexuais antes do casamento. Homero atribui a paternidade destas crianças aos deuses e a imagem da mulher não é denegrida por isso. No entanto, exige-se a fidelidade da mulher casada para assegurar a legitimidade dos filhos.
Entre os homens, no entanto, há uma poligamia declarada, mas esta infidelidade não era vista como ameaça à família ou paz social. Nos Poemas Homéricos não há alusões à homossexualidade, bem como à prostituição, segundo o autor Homero não oferece muitas informações sobre a vida sexual de seu tempo, deduz, entretanto que não havia uma moralidade muito austera.
Na Grécia Antiga a mulher não tinha direitos políticos ou jurídicos, não podia mover processos, possuir, comprar ou vender propriedades, como também não era registrada nos catálogos oficiais, ou seja, não era considerada cidadã. Só possuía o direito de se casar e gerar legítimos descendentes-herdeiros, e o direito de herança, que seria administrada sempre por um homem.
Em Atenas as moças não recebiam educação formal e só começam freqüentar a escola no período helenístico. Não podiam aparecer sozinhas em público, só em ocasiões especiais sempre acompanhadas por seu tutor ou uma escrava e em casa viviam confinadas no gineceu (espaço reservado da casa onde tinha seu quarto e outros comodos de convivência entre mulheres). Já as espartanas, o autor as diferencia apenas pelo fato de participarem de atividades físicas, que era imposto pelo princípio de eugenia da cidade - como cidade guerreira, Esparta, tinha que produzir soldados, homens fortes e saudáveis, logo estes deveriam nascer de mães com as mesmas características.
A posição da mulher casada não se altera muito, entretanto o autor ressalta que tais regras não se aplicavam a toda a sociedade, pois as mulheres pobres tinham que trabalhar fora de casa, contudo isto só ocorria como última solução.
Nos tempos homéricos não havia ainda uma forma legal de casamento, apenas leis não-escritas. Entretanto, havia duas exigências indispensáveis os hédna (presentes de casamento, que o futuro marido entregava ao pai da noiva em espécie, pois ainda não havia dinheiro) e que a mulher fosse encaminhada à casa do noivo. Em caso de separação por culpa da mulher os hédna ficavam com o marido, o contrário a posse passaria para a família da mulher.
No período clássico o casamento adquire uma forma legal, segundo o autor, provavelmente instituída por Sólon (séc. VI a.C.). Para tanto, deveriam ser cumpridas duas condições: a engýesis (garantia), espécie de contrato verbal entre o pai da noiva e o futuro marido, e a ékdosis, entrega da noiva à família do noivo. Cumprida tais formalidades eram assegurados todos os direitos civis e políticos aos filhos provenientes da união. Em 451 a.C., Péricles acresce ainda que para o casamento ser considerado oficial ele deve ocorrer exclusivamente entre cônjuges atenienses. O autor ressalta que o casamento na Grécia Antiga tinha como principais objetivos: gerar filhos do sexo masculino e união de interesses financeiros. Não existe, nem antes, depois ou durante votos de amor, fidelidade ou devoção entre marido e mulher e sim de prosperidade e fertilidade.
Apesar de não haver lei específica o incesto era condenado, mas permitia-se a união entre irmãos de mães diferentes. Era permitido também o casamento entre primos de primeiro grau, e de uma jovem com seu tio, neste último caso apenas quando era necessário salvar a propriedade da família. O casamento era assunto de Estado por se tratar da continuidade da cidade. Neste período a virgindade da mulher passa a ser obrigatória até o casamento, na engýesis havia o dote (proíka) que o pai da noiva dá ao noivo, este costume tinha dois objetivos: atrair pretendentes para a moça e desestimular o divórcio, pois o marido tinha que devolver este à família da mulher.
Nesta sociedade patriarcal o adultério era creditado apenas às mulheres que eram expulsas de casa, caso traíssem seus maridos, pois a honra do homem grego era coisa muito séria. Mesmo neste caso o dote tinha de ser devolvido, daí alguns homens perdoarem suas mulheres. O homem podia pedir o divórcio também por esterilidade da esposa. E a mulher poderia pedir o divórcio fazendo este por escrito ao Arconte, que em caso comprovado de abuso ou violência física podia ser concedido. Em Esparta onde a legislação e a moral eram diferentes simplesmente não havia previsão de adultério.
O concubinato era comum e tinha como principal objetivo a procriação. Era permitido e incentivado pelo Estado, caso a esposa legítima fosse estéril ou só gerasse meninas. As concubinas eram mulheres livres ou metecos (estrangeiras), raramente escravas, e recorriam a esta situação em caso de extrema pobreza. Seus filhos eram considerados legítimos.
O autor nos fala que a maioria das famílias da época não desejava muitos filhos. Para não ocorrer gravidez indesejável:
“..., os gregos recorriam à profilaxia nas relações sexuais, ao aborto e também ao infanticídio e ao abandono de crianças às intempéries, caso os outros métodos não surtissem efeito.” (p. 67).Qualquer atitude da mulher em relação a uma gravidez indesejada tinha de ter o consentimento de seu marido ou dono. O infanticídio era proibido e punido por lei em Atenas. Já em Esparta era o próprio Estado quem o praticava, quando ao analisarem os recém nascidos os chefes das tribos reconheciam doença ou deficiência na criança.
Para falar do comportamento sexual dos gregos, o autor utiliza-se das representações em vasos e determinados relevos, tais representações, possuem os seguintes propósitos: religioso, apotropaico (precaver-se contra o mal), estímulo sexual e humorístico.
A maior parte destas representações retrata relações heterossexuais, poucas homossexuais entre homens adultos, raras entre um adulto e um rapaz e apenas uma entre duas mulheres, sem a certeza de esta ter um caráter homossexual.
Já cenas com associação de sexo e violência, sexo oral onde o homem proporciona prazer à mulher, e a posição sessenta e nove são, segundo o autor, raras. Estas últimas são justificadas pela supremacia masculina da sociedade em que a mulher é sempre retratada submissa e por este motivo, conclui o autor, que era considerada indigna para o homem tais posições. As mulheres que aparecem nestas representações são hetairas ou prostitutas, pois as mulheres respeitáveis atenienses nunca são retratadas em condições intimas.
O autor continua dizendo não havia uma lei contra zooerastia, mas contra o estupro sim, para proteger mulheres e crianças livres ou escravas, com penalidade que consistia em multa pesada paga à vítima e ao Estado.
A homossexualidade masculina era uma prática inaceitável e socialmente condenada, comprovada em textos da época. O autor diz ainda que o homossexual passivo era alvo da exprobração social, pois este se igualava a mulher, que era um ser inferior. Caso fosse pego em flagrante, poderia ser levado a público, quando lhe introduziam um rabanete no ânus.
A profissão de prostituta, no início do século VI a.C., foi regulamentada por Sólon, que estabeleceu os primeiros prostíbulos e instituiu o pornekòn télos (tributo que era recolhido para a profissão). O objetivo desta lei era o de auxiliar os efebos (homens jovens) que atingiam a idade adulta e desta forma impedi-los de cometer adultério com mulheres respeitáveis.
As prostitutas eram via de regra: escravas, ex-escravas, métoikoi /metecos, meninas que haviam sido abandonadas pelos pais e filhas de prostitutas ou ex-prostitutas. Entretanto qualquer mulher livre poderia se tornar prostituta embora isto fosse raro e só ocorresse em caso de estrema pobreza. Incitar alguma mulher a tornar-se prostituta era proibido e punido por lei.
Existia, ainda a Hierà Pornéia (prostituição sagrada), o autor relata que este era um costume antigo encontrado em quase todas as comunidades do Oriente Médio e no território grego em Corinto, Pafos e Amatos (Chipre). As sociedades agrárias da época acreditavam que havia uma influência recíproca entre coisas semelhantes, por isso dedicavam algumas mulheres, as hieódouloi (servas sagradas), a servirem por toda a vida nos templos da deusa do amor. Estas tinham que manter relações sexuais com qualquer um que as pagassem e esta renda era convertida ao templo. Segundo tais crenças o ato sexual praticado em honra da deusa garantia a fertilidade a todas as mulheres, a terra e a prosperidade da cidade.
Hetaira, traduz o autor, significa amiga, companheira. As hetairas eram prostitutas de luxo muito bem pagas, que acompanhavam os homens nos banquetes e outros eventos sociais. A sua procedência era a mesma das prostitutas comuns, o que as diferenciavam era: sua excepcional beleza, perspicácia e relativa competência nas discussões, além de serem educadas, asseadas, terem boas maneiras, tocarem um instrumento e dançarem. O autor ressalta ainda que, principalmente no período clássico, eram protegidas pela elite que se utilizavam dos seus serviços, isto pelos seus atributos físicos.
A pederastia na Grécia Antiga não tinha um caráter homossexual. Tal palavra denotava afeição espiritual de um homem adulto por um garoto e era uma instituição pedagógica plena de ideais. O autor esclarece que enquanto a homossexualidade sempre existiu, a pederastia surge por volta do século VI a.C. e dura até o fim do século IV a.C., a possibilidade de ser mais antiga ainda não é provada. Em Homero não há nada sobre o assunto.
O amor dos gregos pela beleza física e intelectual, segundo o autor, fez com que estes se voltassem para a beleza do corpo masculino, pois as mulheres deste período eram incultas e não praticavam exercícios físicos. A família ainda não havia a coesão e função de hoje, por este motivo o rapaz que tinha um instrutor de ginástica e um professor, precisava de alguém para lhe ensinar os segredos da vida social, funções do Estado, bons modos, valores éticos, virtude e os percalços e perigos da vida, e esta lacuna será preenchida pela pederastia. Assim um homem adulto era responsável para transmitir tais conhecimentos a um adolescente.
“Nesse relacionamento, o adulto era denominado erastés (‘amante’) e o adolescente, erómenos (‘amado’). O erómenos devia ter entre doze e dezoito anos. (...), a continuidade do relacionamento depois dos dezoitos anos era considerada inaceitável, para prevenir que casualmente se transformasse numa relação homossexual.” (p. 104)O autor acentua o fato de que, mesmo que, por vezes a pederastia implicasse em atos sexuais, o abuso sexual dos jovens era ilegal e acarretava severas punições. E esta legislação era dura tanto para a pederastia como para o homossexualismo em geral, como exemplifica várias leis do período.
Em Esparta:
“O erastés era denominado eispnélas (do verbo eispnéo: ‘inspirar’), ou seja, que era inspirado pelo amor, enquanto o erómenos era denominado aïtas (bem amado) (...) Havia uma grande exigência de pureza nas relações e a depravação era castigada com rigor: o exílio perpétuo ou a morte constituíam as penas a que estavam sujeitos os que eram condenados.”O rigor das leis espartanas era aplicado tanto a pederastia como ao abuso sexual de crianças e jovens com outro jovem. Sobre este assunto o autor finaliza dizendo:
“..., devemos ressaltar que a nobre instituição da pederastia não deve ser confundida com pedofilia, e que a homossexualidade na Grécia antiga era simplesmente tolerada pelo Estado e, de modo algum, amplamente difundida, nem jamais um ‘padrão’ da sociedade grega antiga!”
Quanto à homossexualidade feminina o autor afirma que não se sabe muito a seu respeito, por dois motivos: pela sociedade ser dominada pelos homens e pelo homossexualismo feminino ser menos difundido.
O que se sabe vem de alguns fragmentos dispersos que por vezes deixam dúvidas sobre a forma do amor entre mulheres ser espiritual ou sexual. O autor diz ainda que a figura mais associada a este assunto é a poetisa Safo, nascida na ilha de Lesbos, daí a denominação lésbica. Safo manteve uma escola para garotas, a Casa das Musas. Chegaram até nós alguns fragmentos de sua poesia que foi interpretada com fundo homossexual, entretanto, segundo o autor é questionável se esse caráter era sexual ou platônico. Ele diz que ao contrário Safo foi casada, teve uma filha e suicidou-se por conta de um amor (hetero) não correspondido.
A obra de Nikolaos Vrissimtzis é bastante interessante e esclarecedora porque quebra algumas idéias pré-concebidas sobre a sexualidade da Grécia Antiga, como a visão ocidental de que o homossexualismo era comum e incentivado. O autor se utiliza, da arte da época e textos jurídicos, pra dizer exatamente o contrário. Além de fazer uso de outros tipos de textos: literários, teatrais, econômicos, políticos, filosóficos etc.
O fato do mesmo ser grego, utilizando a fala de Finley, credita ao autor maior confiança nas suas interpretações. O que se pode concluir é que dadas as limitações das fontes que chegaram até nós sobre a Antiguidade, o autor consegue traçar um perfil das relações do período de forma simples e bastante direta, abrindo assim caminho para o aprofundamento da pesquisa, bem como a consulta a outros autores para estabelecer relações entre visões diferentes e uso de outras fontes também. Já que a obra é basicamente fundamentada na arte, principalmente de vasos, o que é positivo, pois reflete (como toda forma de arte) a expressão de um povo.
BIBLIOGRAFIA
VRISSIMTZIS, Nikolaos. Amor, sexo & casamento na Grécia Antiga – um guia da vida privada dos gregos. São Paulo: Odysseus, 2002.
sexta-feira, março 26, 2010
Neologismos - palavras inventadas
A criatividade do brasileiro é histórica. E esta não é utilizada apenas no jeitinho, que tira vantagem, passa por cima do outro etc. Tal inventividade é também uma forma de conviver com as disparidades sociais do nosso país.
Esta qualidade tão nossa se expressa ainda na cultura, seja folclórica, musical, teatral etc. Na língua isso aparece com os famosos neologismos.
Em artigo da Revista Língua Luis Costa Pereira Júnior, destaca a entrada no mercado do livro: Pequeno Dicionário Ilustrado de Palavras Invenetas de Marcílio Godoi (arquiteto, designer e jornalista). O autor justifica sua obra dizendo que as pessoas precisam se divertir, brincar com a língua.
Luis Castro coloca que segundo a professora Nelly Carvalho há dois tipos elementares de neologismos: os formais (não dicionarizados) e o semânticos (que dão novos sentidos a palavras já existentes). A professora cita os exemplos: mordomia (anos 70) e azarar (anos 80), ambos semânticos. Alguns neologismos viram testemunhos de uma época: guilhotina, míssil, nazismo, comunismo.
Em geral representam uma tentativa de introduzir novas palavras ao idioma, com o objetivo de tapar um vazio (Guimarães Rosa).
Mas como historiadores é interessante observar a transformação da língua, em forma de neologismos construídos para se nomear uma invenção, uma expressão etc, contaminados pelas suas realidades sociais, econômicas e políticas.
NEOLOGISMOS DO SÉCULO: uma linha do tempo com algumas palavras criadas ao londo de cem anos e que entraram para a linguagem cotidiana
ANOS 1900 - Abandear, adomingar, esteta, joão-ninguém
ANOS 20 - Televisão, seringalista (dono de seringais)
1930 - Negritude
ANOS 40 - Fanzine, míssil, genocídio
ANOS 50 - Primeiro Mundo, Terceiro Mundo (criado pelo economista Alfred Sauvy (1898-1991)), nhenhennhém (ramerrão), bossa-nova
ANOS 60 - Butique, posseiro, dedetizar
1961 - Acessar (Informação), trumbicar
ANOS 70 - Biônico, microrranhuras, baquelite, executivo, circuito integrado, achismo, apagão, intifada, maracutaia, metroviário
ANOS 80 - Videocassete, petrodólar, ilha enérgica, abertura política
ANOS 90 - Imexível, coopetição, metrossexual
ANOS 2000 - mensalão, blogueiro
CRIADORES DE PALAVRAS: uma mostra dos termos inventados por grandes escritores
Millôr Fernandes - Saite, cartomente, uísque, abdhomem (barriga máscula)
Camões - Estupendo, indômito, inopinado, ebúrneo, lácteo, crepitante
Guimarães Rosa - Ufanático, bramosa, chuchurro, mirifácia, druxo, tutaméia
Visconde de Taunay - Necrotério
Drummond - Arkademia, chuvinhenta, coracional, inkhomunikhassão, não-domingo, pluvimedonha, repensamento, sobremarino, beija-flor, roupa-missa
Dias Gomes - Cachacista, apenasmente, desmiolamento, entretantos e finalmentes
Chico Science - Urubuservar
Rui Barbosa - Egolatria, perigalho (pelanca)
Fonte: PEREIRA Jr., L. C. As palavras invenetas. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano III, n. 29, p. 18-22, mar.2008.
Esta qualidade tão nossa se expressa ainda na cultura, seja folclórica, musical, teatral etc. Na língua isso aparece com os famosos neologismos.
Em artigo da Revista Língua Luis Costa Pereira Júnior, destaca a entrada no mercado do livro: Pequeno Dicionário Ilustrado de Palavras Invenetas de Marcílio Godoi (arquiteto, designer e jornalista). O autor justifica sua obra dizendo que as pessoas precisam se divertir, brincar com a língua.
Luis Castro coloca que segundo a professora Nelly Carvalho há dois tipos elementares de neologismos: os formais (não dicionarizados) e o semânticos (que dão novos sentidos a palavras já existentes). A professora cita os exemplos: mordomia (anos 70) e azarar (anos 80), ambos semânticos. Alguns neologismos viram testemunhos de uma época: guilhotina, míssil, nazismo, comunismo.
Em geral representam uma tentativa de introduzir novas palavras ao idioma, com o objetivo de tapar um vazio (Guimarães Rosa).
Mas como historiadores é interessante observar a transformação da língua, em forma de neologismos construídos para se nomear uma invenção, uma expressão etc, contaminados pelas suas realidades sociais, econômicas e políticas.
NEOLOGISMOS DO SÉCULO: uma linha do tempo com algumas palavras criadas ao londo de cem anos e que entraram para a linguagem cotidiana
ANOS 1900 - Abandear, adomingar, esteta, joão-ninguém
ANOS 20 - Televisão, seringalista (dono de seringais)
1930 - Negritude
ANOS 40 - Fanzine, míssil, genocídio
ANOS 50 - Primeiro Mundo, Terceiro Mundo (criado pelo economista Alfred Sauvy (1898-1991)), nhenhennhém (ramerrão), bossa-nova
ANOS 60 - Butique, posseiro, dedetizar
1961 - Acessar (Informação), trumbicar
ANOS 70 - Biônico, microrranhuras, baquelite, executivo, circuito integrado, achismo, apagão, intifada, maracutaia, metroviário
ANOS 80 - Videocassete, petrodólar, ilha enérgica, abertura política
ANOS 90 - Imexível, coopetição, metrossexual
ANOS 2000 - mensalão, blogueiro
CRIADORES DE PALAVRAS: uma mostra dos termos inventados por grandes escritores
Millôr Fernandes - Saite, cartomente, uísque, abdhomem (barriga máscula)
Camões - Estupendo, indômito, inopinado, ebúrneo, lácteo, crepitante
Guimarães Rosa - Ufanático, bramosa, chuchurro, mirifácia, druxo, tutaméia
Visconde de Taunay - Necrotério
Drummond - Arkademia, chuvinhenta, coracional, inkhomunikhassão, não-domingo, pluvimedonha, repensamento, sobremarino, beija-flor, roupa-missa
Dias Gomes - Cachacista, apenasmente, desmiolamento, entretantos e finalmentes
Chico Science - Urubuservar
Rui Barbosa - Egolatria, perigalho (pelanca)
Fonte: PEREIRA Jr., L. C. As palavras invenetas. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano III, n. 29, p. 18-22, mar.2008.
domingo, março 21, 2010
Cornudos Históricos: Moliére, duas vezes cornudo

Continuando com a série, hoje vamos falar de Moliére este grande teatrólogo, que ridiculizava os maridos enganados, ou os que temiam ser, e que foi na realidade: um cornudo convicto.
"É uma verdade que os homens que se encontram acima dos demais, por seu talento, desses se aproximam, quase sempre, por suas fraquezas. Com efeito, por que razão, em virtude do seu talento, haveriam de pairar acima da humanidade?" (Voltaire).
Segundo Kock (1990), a observação de Voltarie não cabe inteiramente no caso de Moliére, por um detalhe: não foi por suas fraquezas, mas sim por suas tristezas, sofrimentos, que ele se aproximou da humanidade.
O primeiro amor do nosso herói foi Madalena Béjart, comediante que conheceu quando estreava nos palcos como ator. Neste período tal profissão não gozava de muito crédito social, mas era mais digna que a de prostituta. Ela era muito atraente, uma mulher livre (ela e sua família foram abandonados pelo pai) que vivia trocando de amantes, ao conhecer Moliére, tinha acabado de ser abandonada por um desses, que a deixara com uma criança para criar.
Ele apaixonou-se e ela o resistiu durante alguns meses, vangloriava-se por ter cedido favores apenas a gentis-homens e por isso lhe custava descer de posto, e, embora Moliére fosse quatro a cinco anos mais novo que ela, no seu entender ele não era suficientemente belo para ela. Após um tempo, terminou cedendo e admitiu tornar-se amante dele.
No entanto, ao término de alguns meses, retornou a vida de sair com homens da corte, que a atraiam muito. Moliére zangado, esbravejou com ela, sua resposta: "Que posso fazer, no entanto, se eu sou assim? Se sou louca por homens da corte! Eu o trai. Terminemos, já que lhe é intolerável a minha traição." Ele a perguntou, se a perdoasse se ela não faria mais, mas ela zombando da pergunta disse que se aconteceu um dia, não há razão para não acontecer novamente. Ele aceitou a situação e assim estava dada a permissão pra que ela o traísse quando bem entende-se.
Madalena não se privava de seus prazeres e por isso quase sempre sua filha, Armanda, ficava entregue a empregada, mas Moliére estava ali para tratar a criança como pai dedicado.
Durante quatro anos manteve-se ligado a Madalena, quando triste com os golpes que recebia dela, era na inocência de Armanda que se refugiava, ensinando-lhe: ler, escrever, além dos princípios de moral e virtude. Cansou-se de Madalena, quando estreava sua primeira peça regular, até então se limitava a apresentação de algumas farsas imitadas do teatro italiano. Conheceu outra atriz a senhorita De Brie, jovem e bonita, que mostrou-se uma ótima pessoa.
Mas... o nosso herói gostava da infidelidade, pois deixou De Brie, para casar-se com Armanda Béjart, a filha da primeira. Ao casar-se estava com quarenta anos e sua esposa ainda não tinha dezoito. O próprio Moliére traçou, mais tarde, o perfil de sua senhora, em uma cena da peça Burguês Gentilhomem:
"a personagem Lucila, filha de Jourdain, pela qual está apaixonado Cleonte, era vivida pela senhora Moliére. No correr da cena, Covielo, criado de Cleonte, enumera os vários defeitos de Lucila, afirmando que ela é medíocre, insensata, de olhos pequenos, boca grande, baixa estatura, indolente, sem espírito, caprichosa, até que Cleonte afirma que a odiará tanto quanto a amara." (KOCK, 1990, p. 147
Na época em que escreveu esta peça, Moliére já estava casado com Armanda a oito anos, isto é, oito anos que havia sido enganado e que era infeliz. E ao contrário do personagem Cleonte, ele prometia a si mesmo odiá-la, no entanto, não a deixava de amar.
Sintetizando a história, o casal teve três filhos, Armanda teve vários amantes, ao ser descoberta, uma vez, pelo marido, passou a ter conduta exemplar, mas logo retornou aos seus casos. Moliére continuou casado, apesar de tudo, infeliz e doente dos pulmões, somente fechou os olhos na companhia de sua senhora. Armanda teve um ato de revolta, que redimiu um pouco seus erros; ao ser informada que o arcebispo de Paris negava-se enterrar seu marido em terra santa, procurou este, proclamando aos brados suas amantes, argumentando não ter este moral para negar um enterro digno à Moliére, o arcebispo não cedeu, e ela retirou-se, indo até o rei reclamar justiça. Este garantiu a senhora Moliére o direito de enterrar seu marido como cristão.
Para solucionar o impasse com o bispo, o rei perguntou a este, até onde ia a terra santa, e ele respondeu até quatro pés de profundidade. O rei respondeu: " - Pois bem! Enterrem Moliére a cinco pés e todos ficarão satisfeitos!"
Por hora, os próximos textos versaram sobre outros temas, mas logo voltaremos a esta série.
Fonte: KOCK, H. Os cornudos. 2 ed. São Paulo: Paumape.
sábado, março 20, 2010
Cornudos Históricos: Rousseau cornudo infeliz ou merecedor?

A traição é uma constante histórica que sempre interessa, pois já foi responsável por grandes reviravoltas, como por exemplo a mais celebre das traições: a de Judas Iscariotes. No entato, não é sobre este tipo de traição que queremos falar, na série que hoje se inaugura com Rousseau, o nosso interesse é das traições conjugais, dos "lençóis da História" (emprestando as palavras de uma professora muito competente e que considera tal assunto irrelevante), utilidades a parte, tais informações (verdadeiras ou não), na nossa concepção, servem apenas para quebrar um pouco a sisudez da historiografia e aproximar grandes ícones de nós simples mortais.
O nosso grande filósofo Jean Jacques Rousseau, não era muito habilidoso com as mulheres, apesar de admirar e amar estas, em suas Confissões, disse: "Na realidade, fiz muito pouco o amor, mas não deixei de usufruir bastante, a meu modo, isto é, através da imaginação." Segundo Kock (1990), o filósofo com frequência substituia os prazeres da realidade pelos sonhos da imaginação e desta forma teve alguns amores. O seu desastre como amante pode ser exemplificado, por uma experiência, com uma prostituta, que o dispensou dizendo: "Abandone as mulheres, estude Matemática" (Confissões - Rousseau).
Kock (1990) nos relata que após alguns amores, à sua maneira, ele se casou, quando menos se esperava, em desespero de causa, com a última: Thérèse de la Vasseur - uma total nulidade de espírito e coração. O próprio Rousseau relata que tentou ensinar-lhe alguma coisa, mas desisitiu, segundo ele, ela nunca aprendeu ler correntemente, ver as horas (apesar de tentar ensiná-la por um mês), era incapaz de acompanhar a sequência dos doze meses do ano, não reconhecia nenhum algarismo, não sabia contar dinheiro, tão pouco os preços das coisas e quando falava, frequentemente, a palavra que saia era o aposto do que queria dizer.
Ainda assim, ele assumiu vida conjugal com ela, prometendo a proteger e jamais casar-se. Ele confessa que sustentava toda a família dela, sofreu muito com uma sogra interesseira, aproveitadora e mau caráter. No entanto, Thérèse nada exigia para seu luxo ou vaidade. Conviveram assim por longos vinte e cinco, resistindo a seus amigos que faziam de tudo para afastá-lo dela, que o traía sem o menor pudor.
Foi no decorrer destes anos que tiveram cinco filhos, fruto de suas cópulas e não do amor. A contradição deste grande e resignado homem, surge neste ponto, Rousseau mesmo se declarando bom, amante da virtude e natureza, escrevendo um livro (Emilio) que ensinava as mães educar seus filhos, ordenou friamente a doação de todos os seus filhos à caridade alheia, em ofarnato.
Após estes vinte e cinco anos de convivência, ele se considerou obrigado a oficializar a relação e quebrando seu juramento, em seus anos de velhice e não a amando, casou-se com Thérèse. Nos dois últimos anos de sua vida, na pobreza, aceitou (depois de muita insistência do amigo) asilo no castelo do Marquês Girardi, em Ermenoville. Lugar que muito lhe agradou ao contrário de sua esposa que se entediava com a vida no campo e tinha saudades de Paris.
Thérèse nunca foi bonita e já encontrava-se envelhecida, no entanto, o palafreneiro do castelo resolveu lhe fazer a corte, interessado nos favores que sua bolsa podia lhe prestar; e ela aceitou. Em uma tarde Rousseau avistou de longe sua mulher abraçada ao amante, cobriu-se de tristeza, dirigindo-se para seu quarto onde se suicidou.
O marquês, seu amigo, quis esconder a vergonha daquela morte, espalhando o boato de que havia morrido de um ataque de apoplexia. Já sua esposa, desobedecendo o marquês, saiu a disseminar a verdade por toda aldeia. Depois de ser expulsa de Ermenoville, ter dissipado a herança literária do marido e os dontativos proporcionados pela Assembléia Constituinte, por ter sido esposa de uma grande homem, morreu aos oitenta anos na miséria.
Sem qualquer comentário de tão conturbada história, resta-nos uma frase conhecida: De perto ningué é normal, nem mesmo Rousseau.
Fonte: KOCK, H. Os cornudos. 2 ed. São Paulo: 1990.
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